Edmilson Siqueira
Em 1985, no Bar do Zincão, alguém teve a ideia de fazer um
bloco de Carnaval. Não sei dizer se eu estava presente nesse dia, mas nos
almoços beneficentes que se seguiram eu estive no primeiro e no segundo (foram
três) inclusive assinando o “Livro de Ata” da fundação da gloriosa Toma na
Banda. O nome era assim, sem acento na palavra “Toma”. Com o tempo virou “Tomá”,
mas isso é outra história.
O fato é que, no Carnaval daquele ano, com uma bandinha no
chão e tocando marchinhas antigas, o bloco desceu a Benjamin Constant em
direção ao Centro, entrou na Glicério, fez uma graça no Largo do Rosário e
pegou a General Osório iniciando o caminho – e subida – de volta ao Bar do
Zincão, passando, claro, pelo City Bar para tomar a saideira.
Uns 300 foliões, se tanto, se atreveram. O bloco vingou, continuou saindo no sábado de
Carnaval por vários anos (está aí até hoje, claro), mas em 1994, por problemas que
prefiro deixar pra lá, não havia saído. Já era setembro ou outubro do ano da
graça de 1994 e o Carnaval de 95 corria sério risco, pois perigava da Tomá na
Banda não sair de novo. Foi então que cinco amigos, reunidos no City Bar, mais precisamente
na mesa 10 (que está lá até hoje, não sei se com esse número, mas que ficou conhecida
como Mesa da Diretoria) na iminência de não ter o bloco, resolveram fundar
outro. Esse humilde escriba estava entre os cinco e só não abro mão de ser o
autor do nome da dita cuja: sugeri City Banda e todo mundo topou na hora.
A história da City Banda, hoje disparada a maior banda de
Carnaval de Campinas – o desfile de sábado passado tinha mais de dez mil
pessoas – acho que já é por demais conhecida e não pretendo contá-la de novo,
até porque saí da diretoria há um bom tempo e não saberia descrever o que tem
ocorrido de lá pra cá. Só sei que os diretores continuam segurando a peteca
dignamente e, faça chuva ou faça sol (quase sempre faz chuva...) a City
desbrava as ruas do Cambuí arrastando considerável multidão.
Esse papo aqui é mais pra dizer que a intenção, quando
fundamos a City Banda, se era suprir uma lacuna, era também um incentivo para
que outros bairros da cidade formassem suas próprias bandas. Dei várias
entrevistas onde fiz questão de dizer que não havia rivalidade alguma com a
Tomá a Banda, muito pelo contrário, ela nos apoiou e nós a apoiamos sempre.
Éramos, praticamente, as duas únicas bandas de Carnaval de rua de Campinas.
Logo depois surgiu a simpática Banda do Candinho e, por um bom tempo, as três foram
as únicas a oferecer uma alternativa de folia para a cidade.
Mas, a forte presença de universitários em Campinas fez com
que, em Barão Geraldo, começassem a pipocar novas manifestações carnavalescas
traduzidas em festa na rua, em desfile com percussão, enfim, na mais completa
tradução dos velhos carnavais, o que a City e a Tomá na Banda sempre quiseram
promover.
Por isso, hoje, vejo com grande alegria que o que plantamos
deu frutos. Enquanto o Carnaval oficial de Campinas virava uma festa violenta
(mais de 30 ônibus depredados a cada ano), com trios elétricos que fugiam
totalmente a qualquer característica
local e com escolas de samba tentando imitar as cariocas e paulistas, mas sem
qualquer condição financeira e estrutural para tanto, os blocos de ruas foram
tomando conta de várias regiões da cidade.
Claro que ainda não chegamos nem perto do Rio de Janeiro,
onde cerca de 450 blocos (corrigi o número depois da postagem, é maior do que eu pensava) saem todos os anos pelas ruas cariocas, levando um Carnaval
e a folia para muito mais gente do que aboleta no Sambódromo. Mas chegaremos
lá, pois hoje há nada menos que 33 blocos em Campinas (ou 32, o Berra Vaca sai
duas vezes) realizando um Carnaval espontâneo, carregando multidões em seus
desfiles e revivendo a origem dessa festa, quando, antes de começar a Quaresma,
o povo cometia os “pecados” todos, brincando na rua, jogando água e farinha nos
outros, enfim, se encharcando de alegria para enfrentar os quarenta dias seguintes
que a Igreja Católica mandava serem de resguardo.
As sementes do Tomá na Banda e da City Banda germinaram e hoje
se espalham em frondosas árvores pela cidade. É esse o Carnaval do povo, onde entra
quem quer e brinca à vontade. Paulinho Lima, Tadeu Costa, Geraldo Jorge, Zé de
Oliveira e esse blogueiro acho podem dormir tranquilos: o Carnaval das bandas
de Campinas – do qual fomos pioneiros – é uma realidade que veio pra ficar.