Edmilson Siqueira
Golé
Marciano, Jota Toledo, Helder Bittencourt, Izildinha, Paulo Martinelli,
Eustáquio Gomes. O que eles têm em comum
além de já terem nos deixado? A idade. Todos em torno dos 60 anos, o que é
considerado hoje em dia morte praticamente prematura.
Golé Marciano,
jornalista, ótimo papo e grande figura, sempre atento aos amigos, não se
importava em comer o que desse vontade e era relapso a médicos, regimes e
colesteróis em geral. Assim, o garçom acabou trazendo a conta da vida meio
relaxada rápido demais. Ele merecia curtir mais um pouco e nós merecíamos um
pouco mais de Golé.
Jota,
artista multimídia antes da era da informática, surrealista em vida e nas
artes, não resistiu ao fato de o corpo ter fraquejado quase que definitivamente
às doenças que o atormentaram desde cedo e aos cigarros e uísques que consumiu
em doses elevadas por mais de 40 anos. Ao caminho inevitável do sofrimento,
preferiu dar um fim na vida e levar com ela a dor que a tornava insuportável. Nada
contra ele decidir por ele mesmo, mas seria bom ter Jotinha ainda hoje por aí,
nos telefonando nas horas mais absurdas, ele que trocava o dia pela noite.
Helder, o
sambista que tanta alegria nos trouxe, marcando nossos peitos com a batida
certeira do seu surdo, preferiu viver a vida em sua totalidade a se fechar em
copas e em remédios para tratar de doença grave. Às pílulas e regimes, preferiu
a noite e a cerveja. Foi uma escolha também e merece de mim todo respeito,
embora a dor causada aos que ficaram tenha sido enorme.
Izildinha,
amiga que não via há tempos, pois vivia em São Paulo ao lado do querido
Januário, estava cheia de planos, já que o marido agora tinha um pouco mais de
tempo para as coisas mundanas e essenciais à felicidade. Um câncer a alcançou
na esquina e impediu-a de prosseguir o caminho. Não foi escolha, foi destino, foi fatalidade,
foi injustiça.
Paulo
Martinelli, jornalista que, sentando à minha frente na última redação que
frequentamos, mais concordava que discordava de mim – o que era raro naqueles
tempos -, era o que podíamos chamar de aventureiro. E intelectual a seu modo.
Ah, discordávamos das mudanças climáticas ou aquecimento global, o que gerava
deliciosas discussões que estariam vivas até hoje, não fosse a surpresa, a
terrível surpresa de um ataque cardíaco. Agora, quando tomo uma Coca-Cola (o
que faço apenas a cada três ou quatro meses) não é com o mesmo prazer: ela me lembra
do Martina, toda noite na redação, a comer um xis bacon ou algo parecido, tendo
ao lado a latinha, não a light ou a zero, mas a original.
E agora o
Tatá, cuja morte encerrou o sofrimento – que não se sabe se ele sentia ou não –
de longos anos de estragos irreversíveis provocados por um AVC. É certo que
estava melhor, mas um amigo comum, que fora íntimo dele, me revelara: foram acidentes vasculares
dos dois lados do cérebro e não haveria retorno mais do que ele alcançara até
aqui: não falaria mais, compreenderia pouco e dificilmente abandonaria a
cadeira. Eustáquio Gomes se foi deixando obra invejável pela qualidade do
texto, pela criatividade e pelas amizades que semeou. (Leia nos comentários, informações mais precisas sobre Eustáquio Gomes, enviadas hoje, 24/02/2014, para o blog).
Enfim, são
seis personagens que se foram antes do combinado ou mesmo sem nada combinar.
Não vão nos acompanhar mais nessa aventura humana pelo planeta. Não creio em
outras vidas, em paraísos ou qualquer coisa após a morte. Ficam a alegria das lembranças e a dor da saudade.
Com elas continuamos vivendo até nos tornarmos também lembranças e saudades, alegrias e dores.