domingo, 23 de junho de 2013

Ah, o tempo...


 
Antonio Contente

Ao ler a bem bolada entrevista do cronista Edmilson com o cantor e compositor, constatei mais uma vez: de fato há certos acontecimentos que, levados para o lado da fofoca, adquirem certa aura filosófica. Pensando nisso, me larguei a navegar sobre o episódio que na época ganhou inúmeras manchetes. E tornou a dançar em minha mente o ocorrido entre as ondas da praia do Leblon, no Rio, na manhã em que fotografaram o compositor Chico Buarque de Holanda atracado, aos beijos e abraços, com a bela mulher. No entreato, minha reflexão transitou muito menos sobre o mexerico em si e mais sobre o efêmero das coisas, de como a juventude, este doce pássaro que já virou filme e peça de teatro, graças ao talento de Tennessee Williams, voa rápido para éteres incertos e não sabidos. O flagrante do compositor e da guria quase ofuscou totalmente as notícias que falavam então de Severino, o formidável presidente da Câmara Federal – lembram? --- extraordinário presente que, junto com Lula, Pernambuco deu ao Brasil. O que se disse na ocasião foi que a moça flagrada com o autor de “Carolina” seria casada e que o marido, apontado como criatura violentíssima, estaria azeitando o tresoitão para alvejar o maduro e charmoso Don Juan.

No passado remoto as pessoas costumavam garantir que o tempo é o senhor da razão. Bastou, assim, que a ampulheta vazasse um pouco mais de areia para que novas nuances do rumoroso caso viessem à tona. A melhor acho que foi a entrevista que o marido corneado, inicialmente apontado como fera, deu para a colunista Mônica Bergamo, da “Folha de S. Paulo”. Certamente uma desfrutável matéria. Pela simples e boa razão que o tal esposo, no papo que manteve com a jornalista, revelou ser dono de mansidão de cambaxirra. A demonstrar que jamais seria capaz de alvejar uma simples formiga, quanto mais o estrelado compositor.

O ponto da entrevista que prendeu minha atenção, e que veio ratificar o quanto o tempo passa rápido, acabou sendo o fato de o rapaz reconhecer que Chico, subitamente travestido de Ricardão, poderia, de fato, estar apaixonado pela mulher dele. E que seria, como se dizia antigamente, de bom alvitre que fosse procurar parceira condizente com sua idade. Criatura facilmente achável em alguma clínica geriátrica, segundo garantiu o elástico traído.

Santo Deus, amigos, aí descobri o quanto o tempo passa! Pois no começo dos anos sessenta, setenta, Chico Buarque era, para a turma da minha geração, o símbolo acabado da juventude, a força maior capaz de abalar os alicerces da ditadura que nos asfixiava. Todavia, de repente, o garoto que arrastava multidões aos auditórios, agora entrado no rol dos quase septuagenários, foi aconselhado, ironicamente por um cara que devia ter, na manhã da corneação, a idade que o encanecido rufião tinha na época em que compôs “Sabiá”, a procurar um asilo a fim de capturar alguém para preencher seus dias e conceder calor às suas inspirações. O que, em última instância, me deixou em desconfortável situação, pois sou pouco mais velho do que Chico Buarque.  Será que devo, também, catar eventual parceira em algum retiro para membros da quinta idade? Tudo bem, até vou. Só se puder, claro, levar pra casa alguém com a estampa da Vera Fisher ou, em última instância, da Sophia Loren. Isso porque a primeira já passou dos sessenta, não é mesmo? E a segunda, a trafegar pelos setenta e lá vai fumaça, poderia até me demonstrar, na prática, se é realmente nas panelas velhas que se faz comida boa. Como fundo musical, “Anos Dourados”...

PS – Gostaria muito de saber, e se alguém puder matar minha curiosidade, por favor, pode fazê-lo por aqui: o marido corneado por Chico, após perdoar a traidora, permanece até hoje com ela?

sábado, 1 de junho de 2013

Há uns seis ou sete anos



Edmilson Siqueira

Acho que foi em 2006 ou 2007 que Chico Buarque foi flagrado no Leblon tomando um banho de mar com uma bela morena e trocando alguns calientes beijos com ela. Um paparazzo de plantão fez as fotos - e boas fotos como se vê acima -, botou na imprensa e deu-se um pequeno escândalo porque a mulher era casada. O marido até foi entrevistado e, magoado, disse que Chico deveria procurar alguém da idade dele. Chico, que já gosta de uma privacidade mesmo quando não acontece nada, sumiu de vez. À época eu trabalhava no Correio e mantinha, na revista Metrópole encartada na edição de domingo, uma coluna de meia página chamada Farol. E, ao pensar em escrever a coluna, tive a ideia de “entrevistar” o Chico sobre o ocorrido. Claro que não seria uma entrevista normal com jornalista e entrevistado frente a frente, nem pelo telefone, nem por e-mail, mesmo porque não sou amigo dele, não tinha seu número de telefone e nem imaginava qual seria seu e-mail.

A ideia que tive passava pela extensa obra do compositor e cantor. Ali estavam todas as respostas que eu necessitaria para botar na “entrevista”. Chico foi o autor da trilha sonora da minha geração. Desde A Banda, no meio dos anos 60, até o fim da ditadura, tínhamos no repertório do Carioca (apelido dele na FAU em Sampa), nosso consolo perante a censura, nossa vingança perante os brutamontes do governo, nossos gritos que não podíamos soltar. E as mais perfeitas cantadas para nossas possíveis namoradas. Então fui elaborando algumas perguntas e procurando nas letras das canções todas as respostas. E, cá entre nós, foi mais difícil fazer as perguntas do que achar as respostas, já que sei – ou sabia, faz tempo que não tento lembrar as músicas dele – muitas letras inteiras, inclusive as mais longas. Que eu me lembre, busquei no site oficial apenas uma resposta, de uma música mais recente à época. O resto saiu automaticamente. E reclamei baixinho (êpa!) do fato da coluna ser tão pequena, porque havia ainda muito material que se encaixava na "entrevista". Até pensei (êpa de novo!) nessa republicação, em continuar com as perguntas e as "respostas", mas achei que está de bom tamanho. Se alguém quiser continuar a brincadeira fique à vontade.
        As razões do Chico

            Depois do bafafá todo em que resultou a aparição de Chico Buarque com aquela morena na praia do Leblon, o grande artista se fechou em copas, talvez aprontando mais uma das suas, mas, tímido como ele só, estava se recusando a comentar o affaire. Só com muito custo e num verdadeiro esforço de reportagem, consegui que ele falasse.

        - Por que você decidiu ir para a praia com ela?

        - Estava à toa na vida...

        - Não dava pra ir bem cedinho quando tem menos gente?

        - Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã.

        - O que te levou a dar uns beijos nela em público?

        - Meu sangue errou de veia e se perdeu.

        - O que ela lhe disse na hora?

        - Vem, meu menino vadio...

        - E você não hesitou?

        - Tinha cá pra mim que agora sim eu vivia enfim um grande amor.

        - Não era apenas uma aventura?

        - Fui muito fiel, comprei até anel, botei no papel o grande amor.

        - Você não pensou na repercussão...?

        - Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada.

        -Você acha que a imprensa exagerou?

        -E do amor gritou-se o escândalo.

        - Você sabia que ela era casada?

        - Eu andava pobre, tão pobre de carinho que, de tolo, até pensei que fosse minha.

        - Você vai se recolher depois dessas notícias todas?

        - Eu vou sair por aí atrás da aurora mais serena.

        - Pode acontecer de novo?

        - Ninguém vai me surpreender na noite da solidão.

        - Por que ela ficou com você?

        - Se você quer mesmo saber por que ela ficou comigo, eu digo que não sei.

        - Você já desistiu dela?

        - Amei daquela vez como se fosse a última.

        - Então não há esperança?

        - Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer.

        - Algum recado pra ela?

        - Sim, vai e diz, diz assim que eu chorei, que eu morri de arrependimento, viu, o meu desalento já não tem mais fim.      

        - Então você está magoado?

        -Vai passar.

        - Algum recado pra ele?

        - Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

        - E agora, depois dessa história toda, o que você vai fazer?

        - Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração.