Edmilson Siqueira
Hoje, 6 de
janeiro, está fazendo 17 anos que Zezé e eu nos conhecemos. Era um sábado
chuvoso como esse domingo, como foi ontem e como é o verão de modo geral desse
lado debaixo do Equador. Eu morava na
Guilherme da Silva, num apartamento cujo maior atrativo era estar a uns 500
metros do City Bar. Com a vantagem de que para ir até lá era uma subidinha pela
Júlio Mesquita e para voltar era descida só. Acho que alguns leitores desse
blog sabem da importância desse aspecto geográfico.
A
sexta-feira anterior tinha sido calma – devo ter ficado com alguns amigos no
City até por volta da uma ou duas da manhã e descido pra casa. Ou chegado mais
cedo, alugado um filme numa das três locadoras que funcionavam a menos de 100
metros do apê, para assistir antes de dormir. Sinceramente não me lembro.
Mas me
lembro que cheguei no boteco por volta das 11 da manhã, dei um passeio, antes,
pela feirinha de artesanato, não comprei nada, claro, e me aboletei numa mesa
para a primeira cerveja. Tadeu já estava lá, como sempre. A mesa, me lembro
muito bem, era a 10, a chamada “da Diretoria” (por causa da fundação da City
Banda que cometemos nela) que nem sei se ainda guarda esse número, pois à época
o City tinha apenas dez mesas, ainda não existia o largo em frente que
triplicou o número de mesas do bar.
Como disse,
chovia e nada revelava que dali a alguns instantes, dois seres completamente
diferentes (bem, nem tanto) iriam se conhecer e passar a escrever suas
histórias a quatro mãos. A chuva dava tréguas, saía o sol e, todas as vezes em
que ameacei ir embora, ela voltava e me impedia de sair (não era bem assim, eu
só falava em ir embora quando estava chovendo, mas tudo bem). Almoço foi um
sanduíche – o José ainda não tinha se esmerado nas bacalhoadas da vida – feito
ainda pelo grande Nilson e a mesa, que começou só com Tadeu e eu, ali pelas
duas das tarde já não comportava mais as outras cinco ou seis pessoas que
chegaram e se sentiram em casa. Já eram duas ou três mesas juntadas, sobre as
quais bailavam garrafas de Brahmas e pratinhos de sanduíches.
Já era
tardinha, tipo quatro da tarde, quando Zezé chegou, a pé, pela General Osório.
Eu não vi, pois estava de costas para a rua, mas Tadeu, sentado à minha frente,
viu e convidou-a pra sentar ao seu lado, claro, pois eram velhos amigos.
Papo vai
papo vem, descobri que ela era professora de inglês, tinha morado um ano em
Londres, morava sozinha num apartamento próprio perto do Mercadão, tinha 39
anos e ganhava mil e duzentos reais por mês.
De mim ela
soube que estava com 45 anos, era jornalista, trabalhava na Sanasa, ganhava um
pouco mais que ela, já tinha sido casado e tinha uma filha que iria fazer 14
anos dali quatro meses que morava com a mãe.
A mãe da minha filha, por incrível que pareça, causou o
primeiro interesse da Zezé em mim. É que, no papo que rolou, acabei falando dela e
falei bem, mesmo porque não havia motivo pra falar mal. Zezé achou interessante
um ex-marido que não amaldiçoa a ex-mulher.
Eu também me interessei por ela e quando a noite chegou, já
éramos velhos conhecidos descobrindo que tinham muitas coisas em comum. Por
exemplo: ajudamos a fundar a Tomá na Banda no Bar do Zincão (eu tenho as
atas da fundação e nossas assinaturas estão próximas, o que quer dizer que
estávamos quase na mesma, comendo a feijoada “beneficente”) e apesar da
proximidade – nessa e em outras ocasiões que fomos descobrindo depois – nunca
nos conhecemos.
Ali pela meia-noite resolvemos ir
embora. A chuva era só uma garoa, mas eu me prontifiquei a dar carona pra ela. Detalhe:
eu não tinha carro. Acabamos descendo a Júlio de Mesquita a pé até meu
apartamento e o resto é essa história que hoje faz 17 anos. E está pronta para
outros 17 ou quantos essa vida louca – cada vez menos louca com o correr do
tempo – nos deixar viver.
Love you!
ResponderExcluirNão mais do que de repente..
ResponderExcluirBeleza!!!
ResponderExcluirParabéns ao casal pelo dia de hoje.
Gostei da narração.
Parabéns! desejo que voces continuem juntos por muitos e muitos anos e também sendo meus vizinhos queridos e preferidos. Felicidades! Bjs.
ResponderExcluirO fascínio das histórias d'amor é que são extremamente diferentes mesmo sendo iguais. Eu sei porque já andei casando aí meia dúzia de vezes tão apaixonado por cada uma das moças que parece que foram uma só. Quando choro de saudades -- e sempre choro de saudades -- clamo por todas elas! O antídoto seria casar de novo. Mas temo que não dá mais...
ResponderExcluirPARABENSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS!!!
ResponderExcluirHistórias de amor são sempre lindas e, a sua, não é menos -- nem no enredo, nem na narrativa.
ResponderExcluirParabéns e felicidade eterna ao par tão bonito!
Beijos da Mariella, [orgulhosa] irmã da Monica
Veja só, vc, com todo o seu ateísmo, não percebeu que, no Dia de Reis - comemorado em 6 de janeiro, sim senhor! quando os Reis Magos foram visitar Jesus e lhe levaram os famosos presentes - quem ganhou o presente foi vc. E que presentaço!! Mas, pra não ser injusta, devo dizer que a Zezé, também, vá lá, não tem do que se queixar. Não é toda mulher, por exemplo, que ganha uma crônica assim simpática e melada com presente de, bem, de aniversário de casamento...
ResponderExcluirMonica
Oi, Edmilson!
ResponderExcluirQue linda declaração de amor! Adorei ler a história de vocês, ou o começo dessa história que completa 17 anos. Personagens e lugares tão conhecidos e especiais...
Felicidades para o casal!
Abraços.
Que lindo e romântico também.Você acha que isso acontece por acaso? O destino traça suas linhas e a gente vai se envolvendo com as pessoas certas no momento certo. Felicidades para os dois. Eu os amo muito. Com carinho...
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