domingo, 6 de janeiro de 2013

Dezessete anos


Edmilson Siqueira

Hoje, 6 de janeiro, está fazendo 17 anos que Zezé e eu nos conhecemos. Era um sábado chuvoso como esse domingo, como foi ontem e como é o verão de modo geral desse lado debaixo do Equador.  Eu morava na Guilherme da Silva, num apartamento cujo maior atrativo era estar a uns 500 metros do City Bar. Com a vantagem de que para ir até lá era uma subidinha pela Júlio Mesquita e para voltar era descida só. Acho que alguns leitores desse blog sabem da importância desse aspecto geográfico.

A sexta-feira anterior tinha sido calma – devo ter ficado com alguns amigos no City até por volta da uma ou duas da manhã e descido pra casa. Ou chegado mais cedo, alugado um filme numa das três locadoras que funcionavam a menos de 100 metros do apê, para assistir antes de dormir. Sinceramente não me lembro.

Mas me lembro que cheguei no boteco por volta das 11 da manhã, dei um passeio, antes, pela feirinha de artesanato, não comprei nada, claro, e me aboletei numa mesa para a primeira cerveja. Tadeu já estava lá, como sempre. A mesa, me lembro muito bem, era a 10, a chamada “da Diretoria” (por causa da fundação da City Banda que cometemos nela) que nem sei se ainda guarda esse número, pois à época o City tinha apenas dez mesas, ainda não existia o largo em frente que triplicou o número de mesas do bar.

Como disse, chovia e nada revelava que dali a alguns instantes, dois seres completamente diferentes (bem, nem tanto) iriam se conhecer e passar a escrever suas histórias a quatro mãos. A chuva dava tréguas, saía o sol e, todas as vezes em que ameacei ir embora, ela voltava e me impedia de sair (não era bem assim, eu só falava em ir embora quando estava chovendo, mas tudo bem). Almoço foi um sanduíche – o José ainda não tinha se esmerado nas bacalhoadas da vida – feito ainda pelo grande Nilson e a mesa, que começou só com Tadeu e eu, ali pelas duas das tarde já não comportava mais as outras cinco ou seis pessoas que chegaram e se sentiram em casa. Já eram duas ou três mesas juntadas, sobre as quais bailavam garrafas de Brahmas e pratinhos de sanduíches.

Já era tardinha, tipo quatro da tarde, quando Zezé chegou, a pé, pela General Osório. Eu não vi, pois estava de costas para a rua, mas Tadeu, sentado à minha frente, viu e convidou-a pra sentar ao seu lado, claro, pois eram velhos amigos.

Papo vai papo vem, descobri que ela era professora de inglês, tinha morado um ano em Londres, morava sozinha num apartamento próprio perto do Mercadão, tinha 39 anos e ganhava mil e duzentos reais por mês. 

De mim ela soube que estava com 45 anos, era jornalista, trabalhava na Sanasa, ganhava um pouco mais que ela, já tinha sido casado e tinha uma filha que iria fazer 14 anos dali quatro meses que morava com a mãe. 

A mãe da minha filha, por incrível que pareça, causou o primeiro interesse da Zezé em mim. É que, no papo que rolou, acabei falando dela e falei bem, mesmo porque não havia motivo pra falar mal. Zezé achou interessante um ex-marido que não amaldiçoa a ex-mulher.

Eu também me interessei por ela e quando a noite chegou, já éramos velhos conhecidos descobrindo que tinham muitas coisas em comum. Por exemplo: ajudamos a fundar a Tomá na Banda no Bar do Zincão (eu tenho as atas da fundação e nossas assinaturas estão próximas, o que quer dizer que estávamos quase na mesma, comendo a feijoada “beneficente”) e apesar da proximidade – nessa e em outras ocasiões que fomos descobrindo depois – nunca nos conhecemos.

Ali pela meia-noite resolvemos ir embora. A chuva era só uma garoa, mas eu me prontifiquei a dar carona pra ela. Detalhe: eu não tinha carro. Acabamos descendo a Júlio de Mesquita a pé até meu apartamento e o resto é essa história que hoje faz 17 anos. E está pronta para outros 17 ou quantos essa vida louca – cada vez menos louca com o correr do tempo – nos deixar viver. 

10 comentários:

  1. Não mais do que de repente..

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  2. Beleza!!!
    Parabéns ao casal pelo dia de hoje.
    Gostei da narração.

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  3. Parabéns! desejo que voces continuem juntos por muitos e muitos anos e também sendo meus vizinhos queridos e preferidos. Felicidades! Bjs.

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  4. O fascínio das histórias d'amor é que são extremamente diferentes mesmo sendo iguais. Eu sei porque já andei casando aí meia dúzia de vezes tão apaixonado por cada uma das moças que parece que foram uma só. Quando choro de saudades -- e sempre choro de saudades -- clamo por todas elas! O antídoto seria casar de novo. Mas temo que não dá mais...

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  5. PARABENSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS!!!

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  6. Histórias de amor são sempre lindas e, a sua, não é menos -- nem no enredo, nem na narrativa.
    Parabéns e felicidade eterna ao par tão bonito!

    Beijos da Mariella, [orgulhosa] irmã da Monica

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  7. Veja só, vc, com todo o seu ateísmo, não percebeu que, no Dia de Reis - comemorado em 6 de janeiro, sim senhor! quando os Reis Magos foram visitar Jesus e lhe levaram os famosos presentes - quem ganhou o presente foi vc. E que presentaço!! Mas, pra não ser injusta, devo dizer que a Zezé, também, vá lá, não tem do que se queixar. Não é toda mulher, por exemplo, que ganha uma crônica assim simpática e melada com presente de, bem, de aniversário de casamento...
    Monica

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  8. Oi, Edmilson!
    Que linda declaração de amor! Adorei ler a história de vocês, ou o começo dessa história que completa 17 anos. Personagens e lugares tão conhecidos e especiais...
    Felicidades para o casal!
    Abraços.

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  9. Que lindo e romântico também.Você acha que isso acontece por acaso? O destino traça suas linhas e a gente vai se envolvendo com as pessoas certas no momento certo. Felicidades para os dois. Eu os amo muito. Com carinho...

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