sábado, 1 de junho de 2013

Há uns seis ou sete anos



Edmilson Siqueira

Acho que foi em 2006 ou 2007 que Chico Buarque foi flagrado no Leblon tomando um banho de mar com uma bela morena e trocando alguns calientes beijos com ela. Um paparazzo de plantão fez as fotos - e boas fotos como se vê acima -, botou na imprensa e deu-se um pequeno escândalo porque a mulher era casada. O marido até foi entrevistado e, magoado, disse que Chico deveria procurar alguém da idade dele. Chico, que já gosta de uma privacidade mesmo quando não acontece nada, sumiu de vez. À época eu trabalhava no Correio e mantinha, na revista Metrópole encartada na edição de domingo, uma coluna de meia página chamada Farol. E, ao pensar em escrever a coluna, tive a ideia de “entrevistar” o Chico sobre o ocorrido. Claro que não seria uma entrevista normal com jornalista e entrevistado frente a frente, nem pelo telefone, nem por e-mail, mesmo porque não sou amigo dele, não tinha seu número de telefone e nem imaginava qual seria seu e-mail.

A ideia que tive passava pela extensa obra do compositor e cantor. Ali estavam todas as respostas que eu necessitaria para botar na “entrevista”. Chico foi o autor da trilha sonora da minha geração. Desde A Banda, no meio dos anos 60, até o fim da ditadura, tínhamos no repertório do Carioca (apelido dele na FAU em Sampa), nosso consolo perante a censura, nossa vingança perante os brutamontes do governo, nossos gritos que não podíamos soltar. E as mais perfeitas cantadas para nossas possíveis namoradas. Então fui elaborando algumas perguntas e procurando nas letras das canções todas as respostas. E, cá entre nós, foi mais difícil fazer as perguntas do que achar as respostas, já que sei – ou sabia, faz tempo que não tento lembrar as músicas dele – muitas letras inteiras, inclusive as mais longas. Que eu me lembre, busquei no site oficial apenas uma resposta, de uma música mais recente à época. O resto saiu automaticamente. E reclamei baixinho (êpa!) do fato da coluna ser tão pequena, porque havia ainda muito material que se encaixava na "entrevista". Até pensei (êpa de novo!) nessa republicação, em continuar com as perguntas e as "respostas", mas achei que está de bom tamanho. Se alguém quiser continuar a brincadeira fique à vontade.
        As razões do Chico

            Depois do bafafá todo em que resultou a aparição de Chico Buarque com aquela morena na praia do Leblon, o grande artista se fechou em copas, talvez aprontando mais uma das suas, mas, tímido como ele só, estava se recusando a comentar o affaire. Só com muito custo e num verdadeiro esforço de reportagem, consegui que ele falasse.

        - Por que você decidiu ir para a praia com ela?

        - Estava à toa na vida...

        - Não dava pra ir bem cedinho quando tem menos gente?

        - Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã.

        - O que te levou a dar uns beijos nela em público?

        - Meu sangue errou de veia e se perdeu.

        - O que ela lhe disse na hora?

        - Vem, meu menino vadio...

        - E você não hesitou?

        - Tinha cá pra mim que agora sim eu vivia enfim um grande amor.

        - Não era apenas uma aventura?

        - Fui muito fiel, comprei até anel, botei no papel o grande amor.

        - Você não pensou na repercussão...?

        - Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada.

        -Você acha que a imprensa exagerou?

        -E do amor gritou-se o escândalo.

        - Você sabia que ela era casada?

        - Eu andava pobre, tão pobre de carinho que, de tolo, até pensei que fosse minha.

        - Você vai se recolher depois dessas notícias todas?

        - Eu vou sair por aí atrás da aurora mais serena.

        - Pode acontecer de novo?

        - Ninguém vai me surpreender na noite da solidão.

        - Por que ela ficou com você?

        - Se você quer mesmo saber por que ela ficou comigo, eu digo que não sei.

        - Você já desistiu dela?

        - Amei daquela vez como se fosse a última.

        - Então não há esperança?

        - Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer.

        - Algum recado pra ela?

        - Sim, vai e diz, diz assim que eu chorei, que eu morri de arrependimento, viu, o meu desalento já não tem mais fim.      

        - Então você está magoado?

        -Vai passar.

        - Algum recado pra ele?

        - Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

        - E agora, depois dessa história toda, o que você vai fazer?

        - Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração.

5 comentários:

  1. Genial CONSTRUÇÃO!
    Abraços e parabéns pela sacada, Edmilson.

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  2. Muito legal Edmilson!

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  3. Marisilda Tescaroli3 de junho de 2013 às 14:56

    Adorei a ideia e a forma como foi feita. Parabéns.

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  4. Olá, Edmilson,
    Seus textos são muito criativos. Adorei a entrevista do Chico.
    Quero mandar os parabéns pra você e pra Zezé, que também é uma simpatia.
    Vocês são um lindo exemplo de companheirismo. Que seja eterno. É tão raro, na nossa faixa etária... (Pior que entre os jovens é mais raro ainda).
    Tudo de bom pra vocês, sempre, sempre.
    Abraços.

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  5. Adorei ... muito bom.
    Beijos.

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