Ao ler a bem bolada entrevista do cronista Edmilson com o cantor e compositor, constatei mais uma vez: de fato há certos acontecimentos que, levados para o lado da fofoca, adquirem certa aura filosófica. Pensando nisso, me larguei a navegar sobre o episódio que na época ganhou inúmeras manchetes. E tornou a dançar em minha mente o ocorrido entre as ondas da praia do Leblon, no Rio, na manhã em que fotografaram o compositor Chico Buarque de Holanda atracado, aos beijos e abraços, com a bela mulher. No entreato, minha reflexão transitou muito menos sobre o mexerico em si e mais sobre o efêmero das coisas, de como a juventude, este doce pássaro que já virou filme e peça de teatro, graças ao talento de Tennessee Williams, voa rápido para éteres incertos e não sabidos. O flagrante do compositor e da guria quase ofuscou totalmente as notícias que falavam então de Severino, o formidável presidente da Câmara Federal – lembram? --- extraordinário presente que, junto com Lula, Pernambuco deu ao Brasil. O que se disse na ocasião foi que a moça flagrada com o autor de “Carolina” seria casada e que o marido, apontado como criatura violentíssima, estaria azeitando o tresoitão para alvejar o maduro e charmoso Don Juan.
No
passado remoto as pessoas costumavam garantir que o tempo é o senhor da razão.
Bastou, assim, que a ampulheta vazasse um pouco mais de areia para que novas
nuances do rumoroso caso viessem à tona. A melhor acho que foi a entrevista que
o marido corneado, inicialmente apontado como fera, deu para a colunista Mônica
Bergamo, da “Folha de S. Paulo”. Certamente uma desfrutável matéria. Pela
simples e boa razão que o tal esposo, no papo que manteve com a jornalista,
revelou ser dono de mansidão de cambaxirra. A demonstrar que jamais seria capaz
de alvejar uma simples formiga, quanto mais o estrelado compositor.
O
ponto da entrevista que prendeu minha atenção, e que veio ratificar o quanto o
tempo passa rápido, acabou sendo o fato de o rapaz reconhecer que Chico,
subitamente travestido de Ricardão, poderia, de fato, estar apaixonado pela
mulher dele. E que seria, como se dizia antigamente, de bom alvitre que fosse
procurar parceira condizente com sua idade. Criatura facilmente achável em
alguma clínica geriátrica, segundo garantiu o elástico traído.
Santo
Deus, amigos, aí descobri o quanto o tempo passa! Pois no começo dos anos
sessenta, setenta, Chico Buarque era, para a turma da minha geração, o símbolo
acabado da juventude, a força maior capaz de abalar os alicerces da ditadura
que nos asfixiava. Todavia, de repente, o garoto que arrastava multidões aos
auditórios, agora entrado no rol dos quase septuagenários, foi aconselhado, ironicamente
por um cara que devia ter, na manhã da corneação, a idade que o encanecido
rufião tinha na época em que compôs “Sabiá”, a procurar um asilo a fim de
capturar alguém para preencher seus dias e conceder calor às suas inspirações.
O que, em última instância, me deixou em desconfortável situação, pois sou
pouco mais velho do que Chico Buarque. Será que devo, também, catar
eventual parceira em algum retiro para membros da quinta idade? Tudo bem, até
vou. Só se puder, claro, levar pra casa alguém com a estampa da Vera Fisher ou,
em última instância, da Sophia Loren. Isso porque a primeira já passou dos
sessenta, não é mesmo? E a segunda, a trafegar pelos setenta e lá vai fumaça,
poderia até me demonstrar, na prática, se é realmente nas panelas velhas que se
faz comida boa. Como fundo musical, “Anos Dourados”...
PS
– Gostaria muito de saber, e se alguém puder matar minha curiosidade, por
favor, pode fazê-lo por aqui: o marido corneado por Chico, após perdoar a
traidora, permanece até hoje com ela?
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