quinta-feira, 3 de julho de 2014

Paris 4 - Lost in paradise

 
LOST IN PARADISE



Edmilson Siqueira
 
Planejei direitinho antes de sair do hotel. Metrô tal até tal estação, troca de linha e vai até tal estação, desce, anda uns 3 quarteirões e chega no Museu Marmottan-Monet. A viagem era meio longa, mas simples. Troquei de linha e, na segunda estação, entra no Metrô uma senhora, bem idosa, Bem vestida, com passos lentos. Uns 80 anos. O lugar ao meu lado estava vazio, mas era um daqueles assentos que sobem quando a pessoa levanta. Abaixei o assento pra ela sentar e ela me agradeceu com um “merci beaucoup” e um sorriso.
A viagem continuou e, umas duas estações depois, o alto-falante soltou um aviso qualquer. Eu percebi que os franceses no vagão estavam prestando mais atenção ao aviso, pois normalmente ninguém mexe nem a cabeça. Desta vez, além de mexer a cabeça, olharam para o relógio. Eu, claro, não entendi nada do que foi falado. Pois na estação seguinte a velhinha se levantou e falou alguma coisa para mim que continuava sentado. Eu respondi, com a cara mais simpática possível, o meu já famoso “je ne parle pas français”, mas ela disse mais alguma coisa e fez um gesto com a mão indicando a porta como me mandando sair. Foi aí que eu vi que o aviso havia sido diferente mesmo dos corriqueiros: todo mundo estava descendo. Lancei um “Pour quoi?” para a velhinha e ela respondeu o óbvio: “Parce que le ligne est interdite!” Ela não disse, mas eu ouvi um “oras bolas!” no fim da frase. E ainda faltavam umas 12 estações pra eu chegar perto do museu.
Mas não desisti. Andei a pé uns 30 minutos e cheguei à Tour Eiffel que era uma referência no caminho do museu. Depois de fazer umas fotos ao lado do Jardim do Trocadéro, pegando a torre ao fundo, de sentir vontade de entrar naquele chafariz enorme,  peguei a Rue de Passy e, se as direções estivessem certas, no fim dela era só pegar outra rua, cujo nome meu mapinha não revelava, que o museu ficava no fim dela. E lá fui eu por mais uns 30 minutos de caminhada. Detalhe: o verão chegou por aqui e devia estar uns 28 graus sem uma nuvem sequer no céu.

 

Claro que andar por Paris, como já disse em oura croniqueta, é um prazer a cada esquina. Além de podermos admirar a arquitetura, os pequenos jardins, há as vitrines de lojas tipicamente francesas que parecem transformar em arte tudo que vendem. Fotografei extasiado uma vitrine de queijos. Eram uns cem, todos dispostos em fileiras e do mesmo tamanho, com nomes os mais variados e preços idem nomes e preço escritos por caligrafia extremamente caprichadas. E há lojas de roupas que expõem apenas duas ou três peças e arranjam de tal forma o espaço que dá vontade de entrar e comprar.


Vai daí que as caminhadas não chegam a ser um martírio. Mas, martírio mesmo foi andar por toda a Rue Pussy e, depois de procurar e não achar o museu em tudo quanto é canto, dar de cara com o Trocadéro de novo, só que do outro lado do jardim. Olhei no mapa e não acreditei: eu tinha pegado a direção errada e simplesmente tinha dado uma longa volta no bairro todo retornando ao local de origem.
Desisti do museu, passei de novo pelo mar de turistas na torre, perguntei onde era o Metrô para um motorista de táxi que me indicou a direção. Só que era uma das estações que estavam fechadas por causa das interdições para os trabalhos de reformas ou sei lá o quê. Desisti do Metrô e resolvi pegar um táxi. Parei o primeiro que apareceu, um Mercedes novinho. Entrei e, para minha surpresa, ouvi saindo do rádio um som conhecido. Ao acabar a música uma locutora disse “TSFJazz. La radio 100% jazz”. Senti-me em casa ouvindo, no micro, a TSFJazz como faço sempre em Campinas. Comentei com o motorista, um parisiense filho de marroquinos que eu ouvia aquela rádio no meu país, o Brasil, pela internet. Ele aumentou o volume, mas não deixou de perguntar sobre futebol ao saber que sou brasileiro. Falei que estava só mais ou menos nessa Copa e ia ser difícil ganhar. Falei numa mistura de inglês com francês, nem sei se ele entendeu, mas parece ter concordado. Até chegar ao hotel deu pra ouvir mais umas quatro ou cinco músicas que aliviaram bastante o mico anterior. E antes de entrar no hotel, fui almoçar no Café Parisiense, que fica aqui pertinho. Após o almoço, que foi um (ou uma?) entrecôte fantástico, paguei com cartão e, ao vê-lo funcionar, disse, em inglês, que era bom ver o cartão funcionando, porque era do Brasil e as coisas não funcionam sempre muito bem por lá. Ela, que parecia ser a dona do local, sorriu, pensou um pouco e quis engatar uma pergunta em inglês, mas não conseguiu. Falou “and you are here...” e parou. Eu completei: “With a World Footbal Cup  in Brazil? Ela assentiu e eu disse sorrindo: “Paris is better, much better than footbal”.     

2 comentários:

  1. Paris, de fato, é melhor do que futebol. Mas Londres dá de 10 nos dois...

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