Edmilson Siqueira
Planejei direitinho antes de sair do hotel. Metrô tal até tal estação, troca de linha e vai até tal estação, desce, anda uns 3 quarteirões e chega no Museu Marmottan-Monet. A viagem era meio longa, mas simples. Troquei de linha e, na segunda estação, entra no Metrô uma senhora, bem idosa, Bem vestida, com passos lentos. Uns 80 anos. O lugar ao meu lado estava vazio, mas era um daqueles assentos que sobem quando a pessoa levanta. Abaixei o assento pra ela sentar e ela me agradeceu com um “merci beaucoup” e um sorriso.
A viagem continuou e, umas duas estações depois, o alto-falante
soltou um aviso qualquer. Eu percebi que os franceses no vagão estavam
prestando mais atenção ao aviso, pois normalmente ninguém mexe nem a cabeça.
Desta vez, além de mexer a cabeça, olharam para o relógio. Eu, claro, não
entendi nada do que foi falado. Pois na estação seguinte a velhinha se levantou
e falou alguma coisa para mim que continuava sentado. Eu respondi, com a cara
mais simpática possível, o meu já famoso “je ne parle pas français”, mas ela
disse mais alguma coisa e fez um gesto com a mão indicando a porta como me
mandando sair. Foi aí que eu vi que o aviso havia sido diferente mesmo dos corriqueiros:
todo mundo estava descendo. Lancei um “Pour quoi?” para a velhinha e ela
respondeu o óbvio: “Parce que le ligne est interdite!” Ela não disse, mas eu
ouvi um “oras bolas!” no fim da frase. E ainda faltavam umas 12 estações pra eu
chegar perto do museu.
Mas não desisti. Andei a pé uns 30 minutos e cheguei à Tour
Eiffel que era uma referência no caminho do museu. Depois de fazer umas fotos
ao lado do Jardim do Trocadéro, pegando a torre ao fundo, de sentir vontade de
entrar naquele chafariz enorme, peguei a
Rue de Passy e, se as direções estivessem certas, no fim dela era só pegar
outra rua, cujo nome meu mapinha não revelava, que o museu ficava no fim dela.
E lá fui eu por mais uns 30 minutos de caminhada. Detalhe: o verão chegou por
aqui e devia estar uns 28 graus sem uma nuvem sequer no céu.
Claro que andar por Paris, como já disse em oura croniqueta,
é um prazer a cada esquina. Além de podermos admirar a arquitetura, os pequenos
jardins, há as vitrines de lojas tipicamente francesas que parecem transformar
em arte tudo que vendem. Fotografei extasiado uma vitrine de queijos. Eram uns cem,
todos dispostos em fileiras e do mesmo tamanho, com nomes os mais variados e
preços idem nomes e preço escritos por caligrafia extremamente caprichadas. E
há lojas de roupas que expõem apenas duas ou três peças e arranjam de tal forma
o espaço que dá vontade de entrar e comprar.
Vai daí que as caminhadas não chegam a ser um martírio. Mas,
martírio mesmo foi andar por toda a Rue Pussy e, depois de procurar e não achar
o museu em tudo quanto é canto, dar de cara com o Trocadéro de novo, só que do
outro lado do jardim. Olhei no mapa e não acreditei: eu tinha pegado a direção
errada e simplesmente tinha dado uma longa volta no bairro todo retornando ao
local de origem.
Desisti do museu, passei de novo pelo mar de turistas na
torre, perguntei onde era o Metrô para um motorista de táxi que me indicou a direção.
Só que era uma das estações que estavam fechadas por causa das interdições para
os trabalhos de reformas ou sei lá o quê. Desisti do Metrô e resolvi pegar um
táxi. Parei o primeiro que apareceu, um Mercedes novinho. Entrei e, para minha
surpresa, ouvi saindo do rádio um som conhecido. Ao acabar a música uma
locutora disse “TSFJazz. La radio 100% jazz”. Senti-me em casa ouvindo, no
micro, a TSFJazz como faço sempre em Campinas. Comentei com o motorista, um
parisiense filho de marroquinos que eu ouvia aquela rádio no meu país, o
Brasil, pela internet. Ele aumentou o volume, mas não deixou de perguntar sobre
futebol ao saber que sou brasileiro. Falei que estava só mais ou menos nessa Copa
e ia ser difícil ganhar. Falei numa mistura de inglês com francês, nem sei se
ele entendeu, mas parece ter concordado. Até chegar ao hotel deu pra ouvir mais
umas quatro ou cinco músicas que aliviaram bastante o mico anterior. E antes de
entrar no hotel, fui almoçar no Café Parisiense, que fica aqui pertinho. Após o
almoço, que foi um (ou uma?) entrecôte fantástico, paguei com cartão e, ao vê-lo
funcionar, disse, em inglês, que era bom ver o cartão funcionando, porque era
do Brasil e as coisas não funcionam sempre muito bem por lá. Ela, que parecia
ser a dona do local, sorriu, pensou um pouco e quis engatar uma pergunta em
inglês, mas não conseguiu. Falou “and you are here...” e parou. Eu completei: “With
a World Footbal Cup in Brazil? Ela
assentiu e eu disse sorrindo: “Paris is better, much better than footbal”.
Paris, de fato, é melhor do que futebol. Mas Londres dá de 10 nos dois...
ResponderExcluirLondres, me caro Antônio, não chega aos pés de Paris.
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