sábado, 12 de julho de 2014

Paris 9 – Nas passagens de Paris


 
Edmilson Siqueira
Fui dar umas voltas lá pelas bandas das grandes galerias, entrei numa delas e fui ‘expulso” pelo preço das grifes logo no primeiro andar. Era um tal de Gucci de um lado, Prada do outro, Dior ali na frente, Givenchy do lado, Sephora à direita, Yves Saint Laurent à esquerda, sem contar os Versaces e Lacostes da vida. Tudo escrito “Soldes” que é como os franceses tratam suas liquidações de verão. Mas era “solde” de 200 euros pra cima... Não era pro meu bolso, embora tudo seja muito fino e, claro, muita coisa seja bonita também.
Resolvi vasculhar pela redondeza, não atrás de preços convidativos – isso tem muito por aqui e já encontrei muita coisa muito mais barata que no Brasil – mas atrás do que me atrai em Paris: as surpresas, o inusitado, o histórico.
Ainda estava no Boulevard Montmartre – que não fica em Montmartre, diga-se – quando vi uma espécie passagem entre dois prédios, com algumas lojas lá dentro. Resolvi entrar e comecei a descobri um mundo sobre o qual já tinha lido alguma coisa, mas não havia marcado entre meus possíveis programas por aqui.

À espera dos fregueses para um cfé, uma cerveja, um vinho ou um almoço
 
Era a Passage Verdeau, famosa e “secreta” (inicialmente era para esconder do mau tempo, depois para preservar loja que foram desalojadas na grande reforma de Haussmann no século 19). Ela começa – ou termina - ali no Montmartre e vai até a Rue De La Grande Bateliere.
 
De repente, lá dentro, um hotel chamado Chopin
 
No seu interior, cafés e lojas de vários tipos, mas quase todas voltadas para algum segmento artístico, como literatura (há uma só de livros antigos com alguns exemplares que me pareceram raridades na vitrine), desenho, pintura etc. Há também lojas de chocolate e outros doces que parecem casinhas de bonecas e até dois hotéis.
 
Não dá vontade de entrar e abrir todas essas latas?
 
O teto é de vidro para permitir a entrada da luz e a construção remonta ao século 18, quando Paris foi remodelada, surgiram grandes prédios para abrigar grandes lojas e as pequenas acabaram como que se refugiando nessas passagens. Há muitas delas em Paris e, só nessa minha incursão, atravessei três ruas e encontrei, quase em linha reta, três passagens distintas.

Fachada da Passage Jouffroy
 
Ao sair da Verdeau, atravessei o Bvd. Montmartre e entrei na Passage Jouffroy (não me lembro bem se foi essa a sequência). Ali outras lojas bonitas, pequenas, aconchegantes, com vários tipos de comércio, inclusive convidativas boulangerie atraindo qualquer um que passa com o cheiro de pão e doces recém tirados do forno. Um dos cafés é formado por duas salas decoradas como se fossem vagões de trem. Um barato!
O "chefe da estação" não estava no momento
 
Ao atravessar mais uma rua, deparei com a Passage Panoramas. Essa tem história escrita logo na entrada numa placa de aço. “Construída em 1800, no lugar do Hotel Montmorency-Luxembourg, a Passage des Panorames deve seu nome às suas duas torres de mais de 17 metros de largura e cerca de 20m de altura: ai foram pintadas telas retratando a vida geral de Paris e a evacuação de Toulon pelos ingleses em 1793. Apesar do desaparecimento desses panoramas em 1831, a passagem permaneceu por longo tempo como um dos passeios favoritos dos parisienses”.


Fachada da Passage Panoramas
 
A placa conta ainda que a Passage Panoramas foi o primeiro lugar público de Paris a ter uma iluminação a gás, em 1817. E prossegue: “Ali havia uma porção de boutiques de luxo, como o Café Veron, a Pâtisserie Felix, a confeitaria A La Duchese de Courland, a papelaria Susse e o gravador Stern, cuja loja existe até hoje”.
O antigo e belo relógio funcionando perfeitamente
 
Outra passagem que tem história é a de Choiseul. É um prolongamento da rua do mesmo nome e foi aberta em 1824 – tem, portanto, “apenas” 190 aninhos. Ela “foi projetada pelo arquiteto Tavernier sobre terras dos banqueiros Mallet, que usava os Hotéis Gesvres e Ratepon como centros de controle da administração dos sorteios da Loteria. A entrada da passagem, na rua Santo Agostinho, é uma galeria do hotel de Gesvres, construído por volta de 1655 por Lepautre, transformada em famosa casa de jogo durante a Regência. O número 23 da passagem foi, durante um século, a Livraria d’Alphonse Lemerre, editor dos poetas parnasianos. Jacques Offenbach entrou no número 73 com seu teatro Bouffes-Parisiens, e Louis Ferdinand Céline passou a infância no 67 e depois no 64.”
 
Interior da Passage Choiseur
Andei por lá por um bom tempo, apreciando as lojas, suas incríveis vitrines e a história que exalava de cada canto. Esbarrei em alguns turistas, mas não era bem o tipo que encontrei lá pelas bandas das Grandes Galerias. Aqui pareciam mais contidos, mas interessados nos detalhes, na arquitetura, no grande relógio, na porta do hotel, nos livros de arte antigos, na decoração do barzinho...
 
Um cantinho para um drink e um bate-papo
 
 

 
Um dos convidativos cafés da Passage Panoramas

6 comentários:

  1. Estou adorando conhecer Paris a distância e por alguém que ama Paris de paixão. Bom final de semana e que seja muito proveitoso. Bjs e saudades .

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  2. Que lugar delicioso este café da última foto! Anote o endereço dele, quem sabe um dia...

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  3. Edmilson, a cada crônica que leio fico mais interessado e já espero a próxima publicação das suas aventuras por Paris.


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  4. Tenho lido todas as suas deliciosas crônicas parisienses - cidade onde estive por apenas quatro dias, para a qual sonho em voltar! Continue nos brindando com seus relatos, Ed.

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  5. Dizem, jornalista Ed, que os melhores botecos do mundo estão na cidade do Porto, Portugal. O que, aliás, pude constatar no levantar de muitos copos. Mas nessas galerias parisienses que você cita, há alguns que não ficam nada a dever aos lusos. E foi num deles que um amigo envolvido em trabalho demorado em Paris conheceu linda moça. O namoro engatou de cara pois o brasuca dominava razoavelmente bem a língua local. Durante seis meses o namoro transcorreu maravilhosamente, até que chegou a hora do brasileiro voltar. O bota fora ocorreu no boteco da galeria onde se conheceram. Após algumas taças ele gemeu para a beldade um "você não quer ir comigo? Meu sonho sempre foi casar com uma francesa linda que nem você". Ante o espanto dele, ela respondeu, em bom português: "Então você ia se decepcionar, pois também sou brasileira, só estou aqui fazendo um curso na Sorbonne". Passado o espanto, o cara se foi e ela ficou. Mas um ano depois, casaram. Moram em Belém do Pará.

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  6. Cara , sensacionais suas crônicas sobre PARIS, fiquei babando de vontade de estar por aí.
    Vai pra minha agenda de viagens.
    Tks pelas dicas.

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