Edmilson Siqueira
Fui dar umas voltas lá pelas bandas das grandes galerias,
entrei numa delas e fui ‘expulso” pelo preço das grifes logo no primeiro andar.
Era um tal de Gucci de um lado, Prada do outro, Dior ali na frente, Givenchy do
lado, Sephora à direita, Yves Saint Laurent à esquerda, sem contar os Versaces
e Lacostes da vida. Tudo escrito “Soldes” que é como os franceses tratam suas
liquidações de verão. Mas era “solde” de 200 euros pra cima... Não era pro meu
bolso, embora tudo seja muito fino e, claro, muita coisa seja bonita também.
Resolvi vasculhar pela redondeza, não atrás de preços
convidativos – isso tem muito por aqui e já encontrei muita coisa muito mais
barata que no Brasil – mas atrás do que me atrai em Paris: as surpresas, o
inusitado, o histórico.
Ainda estava no Boulevard Montmartre – que não fica em
Montmartre, diga-se – quando vi uma espécie passagem entre dois prédios, com
algumas lojas lá dentro. Resolvi entrar e comecei a descobri um mundo sobre o qual
já tinha lido alguma coisa, mas não havia marcado entre meus possíveis programas
por aqui.
À espera dos fregueses para um cfé, uma cerveja, um vinho ou um almoço
Era a Passage Verdeau, famosa e “secreta” (inicialmente era
para esconder do mau tempo, depois para preservar loja que foram desalojadas na
grande reforma de Haussmann no século 19). Ela começa – ou termina - ali no
Montmartre e vai até a Rue De La Grande Bateliere.
De repente, lá dentro, um hotel chamado Chopin
No seu interior, cafés e
lojas de vários tipos, mas quase todas voltadas para algum segmento artístico,
como literatura (há uma só de livros antigos com alguns exemplares que me
pareceram raridades na vitrine), desenho, pintura etc. Há também lojas de
chocolate e outros doces que parecem casinhas de bonecas e até dois hotéis.
Não dá vontade de entrar e abrir todas essas latas?
Fachada da Passage Jouffroy
Ao sair da Verdeau, atravessei o Bvd. Montmartre e entrei na
Passage Jouffroy (não me lembro bem se foi essa a sequência). Ali outras lojas
bonitas, pequenas, aconchegantes, com vários tipos de comércio, inclusive
convidativas boulangerie atraindo qualquer um que passa com o cheiro de pão e
doces recém tirados do forno. Um dos cafés é formado por duas salas decoradas
como se fossem vagões de trem. Um barato!
O "chefe da estação" não estava no momento
Fachada da Passage Panoramas
A placa conta ainda
que a Passage Panoramas foi o primeiro lugar público de Paris a ter uma
iluminação a gás, em 1817. E prossegue: “Ali havia uma porção de boutiques de
luxo, como o Café Veron, a Pâtisserie Felix, a confeitaria A La Duchese de
Courland, a papelaria Susse e o gravador Stern, cuja loja existe até hoje”.
O antigo e belo relógio funcionando perfeitamente
Outra passagem que tem história é a de Choiseul. É um
prolongamento da rua do mesmo nome e foi aberta em 1824 – tem, portanto,
“apenas” 190 aninhos. Ela “foi projetada pelo arquiteto Tavernier sobre terras
dos banqueiros Mallet, que usava os Hotéis
Gesvres e Ratepon como centros de
controle da administração dos sorteios da Loteria. A entrada da passagem,
na rua Santo Agostinho, é uma galeria do hotel de Gesvres,
construído por volta de 1655 por Lepautre, transformada em famosa casa de jogo durante
a Regência. O número 23 da passagem
foi, durante um século, a Livraria d’Alphonse Lemerre, editor dos poetas parnasianos.
Jacques Offenbach entrou no número 73 com seu teatro Bouffes-Parisiens, e Louis
Ferdinand Céline passou a infância no 67 e depois no 64.”
Interior da Passage Choiseur
Andei por lá por um bom tempo, apreciando as lojas, suas
incríveis vitrines e a história que exalava de cada canto. Esbarrei em alguns
turistas, mas não era bem o tipo que encontrei lá pelas bandas das Grandes
Galerias. Aqui pareciam mais contidos, mas interessados nos detalhes, na
arquitetura, no grande relógio, na porta do hotel, nos livros de arte antigos,
na decoração do barzinho...
Um cantinho para um drink e um bate-papo
Um dos convidativos cafés da Passage Panoramas
Estou adorando conhecer Paris a distância e por alguém que ama Paris de paixão. Bom final de semana e que seja muito proveitoso. Bjs e saudades .
ResponderExcluirQue lugar delicioso este café da última foto! Anote o endereço dele, quem sabe um dia...
ResponderExcluirEdmilson, a cada crônica que leio fico mais interessado e já espero a próxima publicação das suas aventuras por Paris.
ResponderExcluirTenho lido todas as suas deliciosas crônicas parisienses - cidade onde estive por apenas quatro dias, para a qual sonho em voltar! Continue nos brindando com seus relatos, Ed.
ResponderExcluirDizem, jornalista Ed, que os melhores botecos do mundo estão na cidade do Porto, Portugal. O que, aliás, pude constatar no levantar de muitos copos. Mas nessas galerias parisienses que você cita, há alguns que não ficam nada a dever aos lusos. E foi num deles que um amigo envolvido em trabalho demorado em Paris conheceu linda moça. O namoro engatou de cara pois o brasuca dominava razoavelmente bem a língua local. Durante seis meses o namoro transcorreu maravilhosamente, até que chegou a hora do brasileiro voltar. O bota fora ocorreu no boteco da galeria onde se conheceram. Após algumas taças ele gemeu para a beldade um "você não quer ir comigo? Meu sonho sempre foi casar com uma francesa linda que nem você". Ante o espanto dele, ela respondeu, em bom português: "Então você ia se decepcionar, pois também sou brasileira, só estou aqui fazendo um curso na Sorbonne". Passado o espanto, o cara se foi e ela ficou. Mas um ano depois, casaram. Moram em Belém do Pará.
ResponderExcluirCara , sensacionais suas crônicas sobre PARIS, fiquei babando de vontade de estar por aí.
ResponderExcluirVai pra minha agenda de viagens.
Tks pelas dicas.