Era uma linha férrea, agora...
Edmilson Siqueira
A
natureza tem entrado firme no meu cardápio parisiense nos últimos dias.
Seguindo uma dica do blog Conexão Paris, fui conhecer um tal de jardim suspenso
chamado Promenade Plantée. Sua origem, fiquei sabendo no blog, é uma antiga via
férrea que terminava na Place Bastille. Era uma via suspensa, apoiada em
grandes arcos. Com a desativação da via férrea, a praça ganhou a Opéra
Bastille, cuja arquitetura não agradou muita gente (eu gostei, embora ela
destoe do conjunto da parte central da cidade), e o comprido viaduto (uma
espécie de “minhocão”) se transformou num enorme jardim. O início dele passou a
se chamar Viaduct des Arts e o espaço sob os arcos foi ocupado por lojas que,
de alguma forma, fazem arte para vender, como joalheiros, ourives, fabricantes de botões, tapeceiros
etc.
Os corredores cercados de plantas: 4,5km
Mas é sobre o viaduto que se estende, por mais de 4,5km, um belo e
diferente jardim. Estreito – não mais 10 metros de largura – ele possui os mais
diversos tipos de canteiros. Por motivos óbvios, não tem árvores altas. Mas ali
se encontram muitas espécies de flores dos mais diversos coloridos. O jardim
todo, além de um ótimo lugar para se sentar num dos bancos (não são muitos) é
usado mais para caminhadas e corridas. Estive lá sexta passada e o que mais vi
foram “atletas” correndo pelo jardim. A paisagem que se desfruta é bonita e
curiosa. Como o jardim está a uns 10 ou 15 metros de altura, ficamos ao nível
dos primeiros andares dos prédios que margeiam o trajeto todo. E a cada esquina
da rua lá em baixo, abre-se um corredor de prédios irresistível para fotógrafos
amadores como este escriba. Andei cerca de 2km pelo Promenade Planée. Não fiz o
trajeto completo porque vou voltar lá, semana que vem, com a Zezé, que chega no
próximo dia 13.
As ruas abaixo do jardim: irresistíveis
No sábado resolvi conhecer o Jardim das Plantas. Estava andando pela Avenue
Daubenton e, de repente, vi uma placa indicando o jardim. Como já tinha visto
no mapa e havia pensado em conhecer, resolvi ir pra lá. No meu mapinha (um
Paris Popout Map, que só recomendo para quem tem tempo e não tem medo de se
perder em Paris), o Jardin des Plantes é um subtítulo do pomposo Muséum Nationale
d’Histoire Naturelle.
Entrada do Jardim das Plantas
Cheguei, entrei (é grátis passear por lá) e comecei a
fazer umas fotos. Olhei em volta e pensei: vou até ali, faço mais umas fotos
daquelas belas árvores, dou a volta naquela pracinha e pronto. É muito
bonito, mas parecia pequeno ali da entrada. Mas foi só fazer uma curva mais pra frente e uma amplidão se
descortinou. O jardim continua com duas enormes “avenidas” cujos canteiros
centrais são canteiros mesmos, cada um com uma espécie de planta com ou sem
flores. Mas isso é apenas uma parte.
De repente, descortinou-se uma avenida de jardins
Caminhando um pouco mais chega-se a um grande pavilhão cujos
cartazes externos trazem grandes promessas: florestas tropicais, areia e
plantas de desertos, pequenos lagos, enfim, um passeio pelo mundo vegetal. Ali,
para entrar, custa 6 euros, mas vale cada um deles dada a quantidade e a
variedade de plantas que você conhece.
Floresta úmida: paraíso dos biólogos
E nos corredores da “exposição” há,
separados por alguns metros, um pequeno dispositivo que liga quando você para na
frente dele e começa a contar tudo sobre as espécies que estão à sua frente.
Pena que é em francês e eu entendi muito pouco. Saí dali mais que satisfeito pelo que vi, aprendi e
fotografei. É outro lugar que vou levar a Zezé semana que vem.
Cactos de todas as famílias e tamanhos
Na volta para o hotel, já fim de tarde (embora faltassem
ainda umas quatro horas para anoitecer, o que acontece, nessa época, lá pelas
22h), vi uma escultura numa esquina da Rue Curvier que resolvi fotografar. Ela
fica a uns 3 metros de altura, ao lado de um café.
De longe, cadê o crocodilo?
Fiz a foto aí de cima, olhei pro povo
que estava no café e uma senhora, aparentando mais de 70 anos, li sentada e
tomando um chá com bolachinhas (isso eu vi depois), me chamou, fazendo aquele universal
gesto com o dedo indicador se curvando. Olhei de lado para me certificar se era
comigo mesmo, olhei pra ela, apontei para meu peito (“eu”) e ela confirmou. No
caminho até ela fui pensando no que será que ela queria comigo. “Vou parlez
français?” ela perguntou e, diante da minha negativa: “Anglais?”. Eu: “More or
less”. Aí ela me perguntou, numa mistura de inglês com francês, se eu havia
visto, na foto que fiz da escultura, um crocodilo. Respondi, também misturando
línguas um pouco, que da distância que estava não havia reparado no crocodilo. Pois ela me disse que ali havia um crocodilo e que era bom eu
olhar bem pra ele, pois eles correm o risco de só existir em esculturas, já que
estão acabando, que na França não existem mais.
Ed, adorando suas croniqueta.
ResponderExcluirLinda crônica, lugar maravilhoso! Vc soube passar bem o recado, mais uma vez: parabéns!
ResponderExcluirLeio e te invejo.
ResponderExcluirAbração!
Eu já li todas e fiquei feliz de saber que vc está bem e se saindo mto bem com seu francês-inglês. Bjs para vc e para a Zezé qdo ela chegar. Com carinho Rudi.
ResponderExcluirBoba eu, que não havia me tocado que vc, claro, iria retratar (em todos os sentidos) seus passeios solitários e desbravadores por Paris. Mas teve seu lado bom: quando vc me disse pra ler as crônicas, vim aqui e li todas de uma vez só, de um fôlego só e com um sorriso na cara, de inveja por mim e de felicidade por vc. O perigo é vc gostar tanto, mas tanto mesmo, a ponto de achar que vale a pena ser cucaracha em Paris a retornar pra esta terrinha que as andorinhas, há muito tempo, abandonaram.
ResponderExcluirMas tenho que admitir: as crônicas estão uma delícia, a gente se sente passeando por ruas e avenidas e jardins suspensos junto com vc. E as fotos ajudam muito, não deixe de fazê-las acompanhar as suas tão bem traçadas linhas.